Velório é um saco. Ainda mais quando é de parente. Só vi o tio uma vez no natal, nunca mais. Pra quê velório? Morreu, enterra! Bando de falsos chorando em cima de corpo gelado. Se era tão querido assim, por que colocar no sanatório? Cretinos. Convulsão é o escambau! Morreu foi de tristeza. Solidão. Recebeu só uma visita num aniversário - meias e cuecas. Rasgou tudo. Achei bom. Ficaram tão bravos que nunca mais foram. Depois que o vô morreu, virou essa bagunça. Duvido que não internaram ele só pra ficar com a fatia da herança. Na hora de descer o caixão, a última homenagem: discurso do irmão mais velho – Cinco minutos de pura falsidade. Não agüentei: “Se ele tá morto a culpa é de vocês!”. Meu pai me virou um tapa na boca. Cheguei em casa, outra surra. Família a gente não escolhe. Se pudesse, escolhia o tio Nelson.