Jacira nasceu feia, de olho murcho. Quando chorava – noite sim, noite não – o olho murcho remelava. O marido só namorava de luz apagada. Depois do amor, Jacira roubava dinheiro da carteira pra jogar no bicho. Escolhia o bicho de acordo com o humor: quando estava vaidosa, jogava no avestruz, gato; quando o marido fazia agrado, jogava cavalo, touro, leão.
No aniversário de casamento comprou camisola nova, tomou banho de mangueira, passou batom vermelho na boca rachada e sombra roxa no olho que não remelava. Apagou a luz do quarto e deitou-se ensaiando pose sensual no espelho. Ficou de ladinho escondendo as varizes da perna com a mão. Olhou pro espelho novamente e se achou parecida com uma leitoa. Prometeu jogar porco no bicho. O marido não chegava. A perna direita dava câimbras. As banhas transpiravam deixando a camisola molhada. A remela do olho murcho escorreu até a boca e se misturou com a baba no travesseiro. Dormiu.
O marido abriu a porta da sala e ouviu o ronco que vinha do quarto. Decidiu nem chegar até lá e ficou pelo sofá.
Jacira acordou pela manhã com o olho tapado de remela. Levantou-se e viu o marido dormindo na sala. “Cretino”, pensou. Abriu a carteira e pegou o dinheiro do vício. Abriu novamente e pegou mais. Calçou chinelo de dedo e foi pra rua de camisola e olho-só. Pensou no marido e jogou meio a meio: burro e veado.
Se percebesse seu reflexo na vitrine, ganharia uma bolada. Bicho certo era o porco – de olho murcho e remelento.
No aniversário de casamento comprou camisola nova, tomou banho de mangueira, passou batom vermelho na boca rachada e sombra roxa no olho que não remelava. Apagou a luz do quarto e deitou-se ensaiando pose sensual no espelho. Ficou de ladinho escondendo as varizes da perna com a mão. Olhou pro espelho novamente e se achou parecida com uma leitoa. Prometeu jogar porco no bicho. O marido não chegava. A perna direita dava câimbras. As banhas transpiravam deixando a camisola molhada. A remela do olho murcho escorreu até a boca e se misturou com a baba no travesseiro. Dormiu.
O marido abriu a porta da sala e ouviu o ronco que vinha do quarto. Decidiu nem chegar até lá e ficou pelo sofá.
Jacira acordou pela manhã com o olho tapado de remela. Levantou-se e viu o marido dormindo na sala. “Cretino”, pensou. Abriu a carteira e pegou o dinheiro do vício. Abriu novamente e pegou mais. Calçou chinelo de dedo e foi pra rua de camisola e olho-só. Pensou no marido e jogou meio a meio: burro e veado.
Se percebesse seu reflexo na vitrine, ganharia uma bolada. Bicho certo era o porco – de olho murcho e remelento.
5 comentários:
Como colírio para os meus olhos remelados,adorei o conto.
valew por voltar a escrever.
grande abraço.
hehehehh gostei!!
Obrigada, e desculpa a demora! Gostei muito do seu também... Esse estilo de texto é interessante, haha!
Fala Michel!
Muito bom!
Falou, abraço!
Muito bom... gostei...
Coitada da Jacira...
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